Portugal já sabia da existência do Brasil antes de 1500?
Como mapas ocultos, diplomacia e espionagem revelam que o Brasil já era conhecido antes de 1500.
Desde sempre aprendemos que o Brasil foi conquistado pelos portugueses a partir da chegada de Pèdro Álvares Cabral, que teria descoberto o Brasil em 1500 por acaso.
Mas, a verdade é que os portugueses contam com uma série de mapas, registros de navegações e relatos que nos ajudam a entender até mesmo o porque da diplomacia portuguesa ter feito tanto para assegurar para si as terras do Brasil, em uma história que envolve espionagem, segredos e feitos únicos para assegurar terras em outro continente.
O SECRETISMO PORTUGUÊS
Portugal foi o grande pioneiro das grandes navegações, adentrando cada vez mais no desconhecido Oceano Atlântico, chamado antes de Mar Oceano.
Ao passo que muitos reinos na Europa se preocupavam apenas em guerrear por condados e territórios fronteiriços, os portugueses se jogavam aos mares em busca de expandir, conhecer e alcançar mais e mais terras no além mar.
Mas, uma característica essencial por trás dessa expansão é o grande secretismo envolto nas expedições portuguesas.
Quando imaginamos o mapa do mundo no século XVI, lembramos imediatamente da divisão do tratado de Tordesilhas, com cada país ibérico recebendo a sua metade e navegando por ela.
Mas a realidade da expansão portuguesa antes de tordesilhas era de segredos de Estado e de uma verdadeira concorrência com Castela, que muitas vezes gerava até mesmo guerras.
Um dos pontos de discordância entre ambos os reinos era a presença nas ilhas canárias, que foram amplamente disputadas. Afonso IV de Portugal chegou até mesmo a protestar ao Papa, mas as ilhas acabaram sob o comando da Coroa de Castela.
Assim, ao passo que os portugueses exploravam o ouro da Guiné, tinham sempre de passar nas proximidades de um território espanhol para transportar a mercadoria.
E o avanço da empreitada portuguesa na busca da circunavegação da África fez com que o secretismo estivesse sempre presente em todos os movimentos expansionistas de Portugal.
Manuel Rosa em seu livro “1494 - Dom João II e o Segredo do Brasil” traz o relato de Fernão de Magalhães, que teria relatado à corte castelhana que os portugueses guardavam com muito secretismo em sua tesouraria um grandioso mapa do mundo, que só os mais ilustres navegadores e o próprio rei tem acesso.
E de acordo com os relatos de Jerónimo Munzer, a cada nova viagem, sempre que um navegador português chegava ainda mais longe, esse mapa era atualizado, sendo lindamente pintado e tendo um diâmetro de 14 palmos, ou seja, em torno de 3 metros.
O mapa era um segredo de Estado e divulgá-lo era equiparado ao crime de traição.
Essa política de secretismo explica, por exemplo, por que não há registros portugueses explícitos sobre o Brasil antes de 1500, apesar das evidências indiretas. A ausência documental é, paradoxalmente, uma prova do sigilo, não da ignorância.
MAR DOS SARGAÇOS
No entanto, antes de 1500, sinais cartográficos, crônicas e relatos náuticos já apontavam para a existência de terras a oeste do Atlântico.
O mapa de Zuane Pizzigano, de origem veneziana, retrata quatro ilhas dispostas a oeste dos Açores, sendo a maior delas chamada Antillia. Também conhecida como "Ilha das Sete Cidades", Antillia aparece com formas, proporções e uma localização no oceano que, se comparadas com os mapas modernos, coincidem com a faixa atlântica que corresponde ao Caribe Ocidental ou às costas da América do Norte.
A nomenclatura “Antillia”, inclusive, sobreviveu no tempo.
Mais do que um erro de cartógrafo ou uma lenda medieval, Antillia refletia o conhecimento náutico acumulado por marinheiros que, desde o final do século XIV, se lançavam em expedições exploratórias não documentadas oficialmente.
É importante lembrar que o comércio atlântico já existia de forma embrionária, especialmente entre ilhas como Madeira, Canárias e Açores — e é justamente nessa lógica de expansão marítima que aparecem essas representações “espontâneas” de massas de terra além-mar.
Os portugueses, sendo os primeiros a ter conhecimento do mar dos sargaços podem ter também ido ao continente americano muito antes de Colombo.
Isso tanto pelo conhecimento das correntes de vento do mar dos sargaços como por cargas d’água, tempestades em alto mar que desviavam as embarcações portuguesas que navegavam pelas águas oceânicas.
E o que torna o mapa de Pizzigano ainda mais significativo é que ele foi produzido em 1424, ou seja, 76 anos antes de Cabral “descobrir” oficialmente o Brasil, e 68 anos antes da viagem de Colombo.
A circulação desse tipo de documento entre navegadores ibéricos é atestada por registros da cartografia náutica medieval — mapas não eram peças públicas, mas instrumentos militares e diplomáticos de alto valor estratégico. Sabê-los interpretar e ocultar era uma vantagem.
Essa hipótese é reforçada por crônicas como as do viajante e escriba tcheco Václav Sasek de Bírkov, que relatou uma expedição portuguesa, por volta de 1466, em direção ao Ocidente. (p.25 de Rosa ele cita esse relato).
Apenas uma embarcação retornou — não com ouro nem especiarias, mas com certeza geográfica: havia terras além do mar. A fronteira do mundo não terminava no horizonte atlântico, como tantos ainda acreditavam.
O relato, preservado no Codex Bratislavensis, é claro: o ponto de chegada dessas embarcações não foi o fim do mundo, mas o início de outro.
No livro 1494, Rosa sugere que Portugal sabia da existência de terras firmes no Atlântico Sul antes mesmo da assinatura do Tratado de Tordesilhas. E não apenas sabia, como negociou a linha divisória com base nesse conhecimento prévio.
COLOMBO - TEORIAS
E um dos pontos que temos a considerar em toda essa trama de espionagens e secretismo é a participação de agentes duplos e figuras obscuras como Cristóvão Colombo.
A presença por décadas de Cristóvão Colombo em Lisboa e na ilha da Madeira antes de oferecer seu projeto aos Reis Católicos, levanta suspeitas. Segundo o frade Bartolomé de las Casas, em seus escritos Colombo teve acesso a informações privilegiadas quando passou pela corte portuguesa, e isso é amplamente sabido; já que ele se usou das correntes marítimas das Ilhas Canárias para inflar suas velas em direção ao novo mundo.
E ele próprio teria registrado que D. João II já tinha conhecimento de uma terra firme a sudoeste, ou seja, na direção da costa brasileira. Essa afirmação é reproduzida em várias fontes primárias, inclusive nas Historias de las Indias, de Las Casas.
O silêncio, portanto, não era ignorância, mas uma forma de assegurar o domínio português sobre o que hoje é o Brasil.
Inclusive existem teses que apontam para uma origem portuguesa de Colombo, que é defendida por intelectuais como Mascarenhas Barreto e historiadores de renome como Manuel da Silva Rosa.
Na obra Portugal e o Segredo de Colombo ele aponta para a origem lusitana do navegador, no caso, tendo nascido na ilha da madeira.
Segundo essa teoria, Cristóvão Colombo não teria nascido em Gênova, mas sim em Cuba, uma freguesia portuguesa. Seu verdadeiro nome seria Salvador Fernandes Zarco, neto de João Gonçalves Zarco, o navegador e cristão-novo que descobriu a Ilha da Madeira em 1419.
E a hipótese ganhou força a partir de um detalhe curioso: Colombo teria batizado cerca de 40 locais no Novo Mundo com nomes tipicamente portugueses — incluindo a maior ilha da região, que ele chamou de Cuba. Coincidência ou pista deixada por alguém com raízes lusitanas?
Segundo os defensores dessa tese, Colombo teria adotado o codinome e sido enviado a Castela como espião, a mando do rei Dom João II. E sua missão seria desviar o interesse dos castelhanos do lucrativo comércio de especiarias na Ásia.
Na época, Castela era uma pedra no sapato de Portugal: além de controlar as Ilhas Canárias, tinha potencial para disputar o domínio das rotas africanas. Um movimento agressivo castelhano poderia facilmente escalar para uma guerra. Por isso, segundo essa visão, Dom João preferiu agir nas sombras — e Colombo seria a peça-chave desse jogo estratégico.
E existem alguns indícios que dão sentido a essa teoria.
Após os conflitos com os reis católicos em 1501, o navegador teria tentado traduzir um texto para italiano, quando andava preocupado em encontrar uma garantia internacional para a transmissão de seus privilégios para o seu filho Diego Colon. O texto muito confuso que escreveu tem apenas 57 palavras, e está repleto de palavras portuguesas e castelhanas, próprias de quem não sabia nada de italiano, nem de nenhum dos seus dialetos.
E para além disso, temos o fato de que Colombo tem amplos registros de trânsito por Portugal, tendo residido na ilha da madeira, em Lisboa e frequentando com frequencia a corte de Dom João II.
Colombo casou-se com Felipa Moniz, que era de família importante de Portugal, filha do governador da ilha de Porto Santo, com quem teve seu primeiro filho Diego.
Esse casamento com a filha de um aristocrata português já contradiz muito a tese de que ele seria um mero plebeu filho de tecelões genoveses, já que não seria concebível na sociedade da época uma donzela filha de um governador casar com um plebeu estrangeiro sem recursos.
E por fim, ao retornar de sua primeira viagem às Américas, antes de aportar em Castela, o navegador faz questão de aportar em Lisboa em 4 de março de 1493, onde diz ao rei Dom João II absolutamente tudo o que encontrou no Novo Mundo.
E Colombo fica hospedado em Lisboa nada menos que por onze dias, para a fúria dos reis católicos. E foi com base nessas informações que o Rei Dom João viu que as terras, pelo tratado de Alcaçovas eram na verdade pertencentes a Portugal.
Assim, podemos ver que Colombo tinha informações valiosas obtidas dos portugueses e também compartilhadas depois com o rei de Portugal. Colombo teria tido ainda na Madeira contato com náufragos que teriam ido além do mar oceano, o que o deu certeza de que tinham chegado na Ásia. Por isso inclusive a insistência do navegador em passar pelas cortes de Castela e Portugal.
CORTE REAL E O CANADÁ
Mas, para além da possibilidade de descobrir as américas pelo mar dos Sargaços, os portugueses muito provavelmente já tinham atingido o canadá antes mesmo de Colombo.
Segundo o historiador Gaspar Frutuoso, no livro Saudades da Terra, por volta de 1470 — ou seja, vinte anos antes da famosa viagem de Colombo — o rei Afonso V de Portugal enviou João Vaz de Corte Real à Dinamarca visando que este participasse de uma expedição que buscava restabelecer antigas rotas com a Groenlândia.
Nessa jornada, Corte Real, junto com Álvaro Martins Homem, teria mapeado a região e trazido informações valiosas para Portugal, principalmente sobre o potencial econômico da pesca do bacalhau — uma riqueza que começava a chamar atenção.
Com esse conhecimento sobre as rotas do norte, outros navegadores portugueses entraram em cena. João Fernandes, um açoriano da Ilha Terceira, e Pedro de Barcelos participaram, em 1497, de expedições que mapearam a Terra Nova e a Ilha do Labrador. Aliás, o nome “Labrador” no Canadá vem justamente de João Fernandes — ele ficou conhecido como "o Labrador", o lavrador do mar, que primeiro avistou e cartografou aquelas terras.
Eles não apenas mapearam como também reivindicaram essas terras para a Coroa Portuguesa, baseando-se no Tratado de Tordesilhas, que dava a Portugal o direito sobre aquela faixa do Novo Mundo.
Mas a história não para por aí.
João Vaz de Corte Real, aquele que teria visto a Groenlândia antes de Colombo cruzar o Atlântico, teve três filhos: Vasco Anes, Gaspar e Miguel da Corte Real. E quem assumiu a dianteira das explorações foi Gaspar.
Em 1500, ele partiu para a Groenlândia acreditando que estava se aproximando das costas da Ásia. Não conseguiu desembarcar, mas no ano seguinte tentou novamente, dessa vez rumo ao que chamavam de “Terra Nova dos Bacalhaus”. Só que... nunca mais voltou.
Ninguém sabia ao certo o que tinha acontecido. Um iceberg? Um naufrágio? Um ataque indígena? Tudo era possível.
E diante do desaparecimento, seu irmão Miguel pediu permissão ao rei para sair em busca dele. E foi atendido. Em 1502, partiu de Lisboa com três navios. Chegaram até onde o grupo de Gaspar teria estado e decidiram se separar para cobrir mais área. Marcaram um ponto de encontro para 20 de agosto numa baía... mas o navio de Miguel nunca apareceu. Os outros dois retornaram a Portugal. Miguel desapareceu sem deixar rastros.
Restava um último irmão. Vasco Anes da Corte Real pediu ao rei para liderar uma terceira expedição — queria encontrar os dois irmãos perdidos. Mas dessa vez, o rei recusou.
E assim, dois irmãos Corte Real se perderam nas águas geladas do norte, em nome de Portugal e de uma promessa de riqueza no Novo Mundo que jamais chegou.
Mas, para além desses conhecimentos, evidencias e teorias, existem outros indícios cartográficos do conhecimento prévio do Brasil antes de 1500.
OS MAPAS
Se o mapa de Zuane Pizzigano já deixava pistas da existência de terras no meio do Atlântico em 1424, o mapa de Juan de la Cosa, produzido em 1500, praticamente escancara o conhecimento dos europeus a respeito da costa da América do Sul, e o faz com uma precisão impressionante.
Juan de la Cosa era mais do que um cartógrafo. Era navegador, cosmógrafo e um dos homens de confiança de Cristóvão Colombo.
Seu mapa, feito com base nas expedições castelhanas, é o primeiro planisfério conhecido a representar com clareza o litoral brasileiro, mesmo que Cabral ainda estivesse em alto-mar ou recém-chegado às praias do sul da Bahia.
Nele, vê-se delineado um longo trecho da costa sul-americana, sinalizando que a informação geográfica já circulava entre os círculos ibéricos com muita antecedência.
O que impressiona não é apenas a existência do mapa, mas a velocidade com que esse conhecimento foi consolidado graficamente, o que indica que outras viagens já haviam ocorrido, muito antes das oficiais.
Assim, o mapa de Juan de la Cosa, embora castelhano, serve de testemunho involuntário de que os contornos da América do Sul já estavam sendo sistematicamente desenhados nos bastidores ibéricos, bem antes da cerimônia oficial da “descoberta”.
D. JOÃO II
Isso tudo mostra que a expansão portuguesa nunca foi apenas náutica. Ela foi, desde o início, política, diplomática e sobretudo geopolítica. E nenhuma figura representa melhor essa postura do que D. João II, o chamado Príncipe Perfeito, um dos monarcas mais astutos da história europeia.
Sob seu reinado, Portugal não apenas aprimorou sua tecnologia náutica e cartográfica, como também desenvolveu uma sofisticada rede de informação e desinformação. A política de descobrimentos foi transformada, sob seu comando, em uma questão de segurança nacional.
É dentro desse contexto que ocorre a negociação do Tratado de Tordesilhas, em 1494. Oficialmente, o tratado tinha como objetivo resolver o conflito de interesses entre as Coroas ibéricas sobre as terras recém-descobertas por Colombo. No entanto, o que poucos percebem é que Portugal entrou nessa negociação com uma carta escondida.
Segundo Bartolomé de las Casas, em seu escrito Historia de las Indias, Colombo teria afirmado que D. João II lhe dissera, com todas as letras, que já sabia da existência de uma “terra firme a sudoeste”.
Esse testemunho é um dos indícios mais contundentes de que a Coroa portuguesa já conhecia parte do continente sul-americano antes mesmo da famosa viagem de 1492.
Afinal, se o rei de Portugal não tinha tal informação, por que aceitou negociar a linha divisória?
E mais: por que pressionou para que a linha de Tordesilhas fosse deslocada 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde, justamente onde o Brasil viria a ser "descoberto"?
Esse modelo de ocultamento das descobertas náuticas portuguesas se reflete também em peças como o mapa de Cantino, contrabandeado de Portugal em 1502 e hoje uma das provas mais explícitas da antecipação portuguesa em relação ao conhecimento da costa brasileira.
O mapa mostra com clareza as feições do litoral brasileiro, sugerindo que sua exploração foi anterior à viagem de Cabral, ainda que mantida sob sigilo absoluto.
O Tratado de Tordesilhas, portanto, foi uma jogada maquinada por D. João II para garantir que as terras brasileiras ficassem legalmente sob domínio português antes que fossem publicamente reclamadas por Castela.
Enquanto Colombo era celebrado nos salões castelhanos, Portugal já havia garantido por tratado uma parte de um Novo Mundo que, oficialmente, ainda não existia.
CIÊNCIA E CÁLCULOS
E além das negociações e conhecimentos prévios antes de Tordesilhas, possivelmente um outro português chegou ao Brasil antes de Cabral. E seu nome era Duarte Pacheco Pereira.
Autor do tratado Esmeraldo de Situ Orbis, redigido entre 1505 e 1508, Pacheco Pereira foi um dos primeiros europeus a registrar observações científicas rigorosas sobre ventos, correntes, marés e coordenadas geográficas do Atlântico Sul.
Seus cálculos sobre a linha do equador, com uma baixíssima margem de erro, colocam-no muito à frente do seu tempo em termos de precisão astronômica e domínio da latitude.
Ainda existem menções que sugerem fortemente que Pacheco esteve em terras do Novo Mundo em 1498, dois anos antes de Cabral.
Embora o manuscrito não mencione explicitamente “Brasil” ou “América”, a descrição da vegetação, da extensão costeira, da abundância de água doce e da posição geográfica coincide de forma inquietante com o litoral nordestino.
Essa hipótese é reforçada por Francisco Contente Domingues, professor e historiador da Universidade de Lisboa. Em seu livro A Travessia do Mar Oceano: A Viagem ao Brasil de Duarte Pacheco Pereira em 1498, Domingues defende que há evidências documentais e lógicas suficientes para afirmar que Pacheco de fato tocou o litoral brasileiro dois anos antes da viagem de Cabral.
Segundo ele, os relatos meteorológicos, oceanográficos e astronômicos de Pacheco são compatíveis com a travessia atlântica completa, e não com simples expedições costeiras africanas, como se supunha anteriormente.
Desse modo, podemos ver o quanto os conhecimentos portugueses eram avançados para a Época.
Os navegadores portugueses utilizavam a chamada "regra do marteloio", uma técnica de navegação que permitia calcular com grande precisão desvios latitudinais e longitudinais com base em ângulos e rumos corrigidos.
Essa sofisticação tornava possível não apenas explorar, mas cartografar em sigilo.
Duarte Pacheco Pereira, com sua ciência náutica avançada e perfil técnico-político de alta confiança do rei, parece ter sido um dos principais instrumentos dessa estratégia encoberta de antecipação e posse.A missão dele não era apenas descobrir, mas confirmar e proteger o que já se sabia: que havia terra firme ao sudoeste. E essa terra se chamaria, oficialmente, Brasil.
Assim, o deslocamento negociado em Tordesilhas garantia ao reino uma ampla faixa atlântica que coincidentemente abarcaria a costa brasileira, mesmo antes de qualquer descoberta oficial.
Não se trata de suposição vazia. O próprio domínio técnico da época permite especular essa antecipação.
O TRATADO DE TORDESILHAS FOI UMA ARMA
O Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, foi uma manobra política minuciosamente calculada pela Coroa portuguesa. E seu principal objetivo pode não ter sido proteger rotas africanas ou asiáticas, mas garantir, com antecedência, o direito legal sobre uma parte da América do Sul: o futuro Brasil.
Os termos do tratado são reveladores. O documento estabelece que todas as terras descobertas a 370 léguas a oeste de Cabo Verde pertenceriam a Portugal. Esse deslocamento da linha divisória não foi aleatório. Em versões anteriores, como a bula Inter Caetera de 1493, a divisão previa apenas 100 léguas a oeste dos Açores, algo inaceitável para os interesses portugueses.
A insistência portuguesa em mover a linha para muito mais longe do que o necessário para proteger suas rotas africanas só faz sentido à luz de uma hipótese: Portugal já sabia da existência de terras a sudoeste e precisava garantir, no papel, aquilo que ainda não podia revelar oficialmente.
FINAL
Cabral, portanto, não teria descoberto o Brasil por acaso, ele foi enviado para formalizá-lo.
Quando Pedro Álvares Cabral ancorou em Porto Seguro em abril de 1500, não estava abrindo uma nova fronteira, mas consumando uma conquista que já havia sido selada anos antes em Tordesilhas.
E os portugueses não estavam descobrindo o Brasil por um acaso de um mal tempo. Estavam na verdade consolidando uma série de conhecimentos adquiridos em longos anos de navegação, espionagem, estudos e mapeamentos que garantiriam que o Brasil restasse sob o domínio lusitano. Algo que mudaria completamente o destino e história dessa parte da América do Sul, herdeira do legado lusitano.
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REFERÊNCIAS:
LAS CASAS, Bartolomé de. Historia de las Indias. Madrid: Imprenta de Miguel Ginesta, 1875. Tomo II, p. 225. e
MUNZER, Jeronimo . Viagem por España y Portugal (1494-1495) Ediciones Polifemo, Madrid, 1991.
ROSA, Manuel. 1494 D. João e o segredo do Brasil. Editora Alma dos livros, 2024.
Artur do Canal História Ibérica




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